segunda-feira, 10 de setembro de 2012

On The Corner- Miles Davis - 1972



Em 1972, o choque elétrico que Miles Davis tinha dado no Jazz com o duplo Bitches Brew (1970), começava a ser assimilado.  Foi quando  o Prince of Darkness ( apelido que havia recebido, em 1967), leva o jogo a outro patamar, com o hipnótico e denso On The Corner.

Em 72, Davis foi introduzido à música de Stockhausen por um jovem arranjador e violoncelista, e mais tarde ganhador do Grammy: Paul Buckmaster, que influenciaria profundamente as novas gravações . Segundo o biógrafo J.K. Chambers : "O efeito dos estudos de Stockhausen por Davis não poderiam ser contidos por muito tempo. …sua própria 'música espacial', mostrava composicionalmente a influência de Stockhausen”. 

Suas performances ao vivo entre 1970-1972 eram verdadeiros laboratórios sonoros, onde Miles, muito bem acompanhado, inclusive contando com dois músicos brasileiros em sua banda, Airto Moreira e Hermeto Pascoal, criava novas linguagens e levava seus experimentos a extremos, antes impensáveis para o conservador Jazz.

Ao entrar em estúdio em junho de 1972, Miles resolveu experimentar até onde a mistura de Stockhausen e  black music elétrica de Sly and The Family Stone, Funkadellic, Stevie Wonder e Isaac Hayes poderia chegar. Acabou explorando uma sonoridade altamente dançante, negra urbana, feita sob medida para agradar o jovem público afro-americano. 

Chamou um time impecável de músicos, formado por Michael Henderson, Carlos Garnett, o percussionista Mtume, o guitarrista Reggie Lucas, o tocador de tabla Badal Roy, Khalil Balakrishna na cítara, o baterista Al Foster, e o pianista  Herbie Hancock, que também estava trilhando um caminho parecido ao unir o jazz ao funk (que geraria outro marco no fusion, o álbum Head Hunters, lançado em 1973). Após rápidas jams sessions, pariu um de seus melhores trabalhos.

On The Corner, soa como se Exu tocasse trompete em uma  encruzilhada de uma grande metrópole, ou a trilha sonora de uma versão Blackexpoitaiton do filme “2001”. 

O álbum é uma longa jam, que  não se prende a estrutura do jazz tradicional. A seção rítmica fornece um denso tapete polirrítmico sobre o qual os solos de trompete, encharcado de wha wha, e sax, se debruçam formando  camadas  de som, com elementos eletrônicos cheios de efeitos, que são adicionados e subtraídos, em meio a um transe sonoro, forrado por uma percussão afro sci fi. 


Previsivelmente, o disco não foi entendido na época e despertou a ira da crítica de jazz, que já vinha estranhando a fase elétrica de Miles há um bom tempo. On the Corner foi chamado de  "porcaria repetitiva" , "um insulto à inteligência das pessoas" e  foi considerado anti-jazz,  hostilidade resumida nas palavras nada amistosas do saxofonista  Stan Getz- "Essa música é inútil. Não significa nada. Não há nenhuma forma, nem conteúdo. Quase não tem swing”.

Mas o tempo mostrou que Miles estava certo e o disco é apontado como influência no pós punk (convidado pelo produtor Bill Laswell, Davis gravou algumas partes com trompete durante as sessões do disco Album, do  Public Image Ltd, contidas  na compilação Plastic Box). Nas palavras de Lyndon, "foi esquisito, nós não usamos (suas contribuições)." De acordo com Lydon, Davis comparou sua voz com o som de seu trompete).

Mas foi Luis Fernando Veríssimo, em uma de suas crônicas  no livro “Banquete 
com os Deuses” quem melhor sintetiza essa fase da carreira de Miles, usando uma das maiores paixões do músico, o boxe: “Um homem tem direito a fazer quantas revoluções por vida? Há quem diga que a última revolução de Miles Davis acabou em farsa, que o quase careca de túnica colorida fazendo fusão com a rapaziada não era nem uma sombra, era a múmia do antigo Miles reduzido a espasmos de som. Mas também há quem diga que o Miles da última fase era de uma coerência fulgurante, o velho boxeador na ponta dos pés e ainda fazendo história”.

On The Corner foi um direto no queixo. 

Nocaute.

Jefferson "Caverna" Nunes é um comunicador e fã de artes marciais. Nas horas vagas, curte pesquisa sobre música, quadrinhos, filmes e ficção científica. Apesar de ter um milhão de amigos, não leva desaforos para casa. Entre outras façanhas, já deu voadora no peito do Chorão e jogou o celular de um fã de tecnobrega pela janela do busão. ( Definição segundo Helder Maldonado).

Tracklist

01. On The Corner

02. New York Girl

03. Thinkin’ One Thing and Doin Anot

04. Vote For Miles

05. Black Satin

06. One and One

07. Helen Butte

08. Mr Freedom X

DOWNLOAD: RAPIDSHARE


Box: Miles Davis – The Complete On The Corner Sessions 1972-1975

Tracklist
CD1
01. On The Corner (Unedited Master)
02. On The Corner (Take 4)
03. One And One (Unedited Master)
04. Helen Butte/Mr. Freedom X (Unedited Master)
05. Jabali
CD2
01. Ife
02. Chieftain
03. Rated X
04. Turnaround
05. U-Turnaround
CD3
01. Billy Preston
02. The Hen
03. Big Fun/Holly-wuud (Take 2)
04. Big Fun/Holly-wuud (Take 3)
05. Peace
06. Mr. Foster
CD4
01. Calypso Frelimo
02. He Loved Him Madly
CD5
01. Maiysha
02. Mtume
03. Mtume (Take 11)
04. Hip-Skip
05. What They Do
06. Minnie
CD6
01. Red China Blues
02. On The Corner/New York Girl/Thinkin’ Of One Thing And Doin’ Another/Vote For Miles
03. Black Satin
04. One And One
05. Helen Butte/Mr. Freedom X
06. Big Fun
07. Holly-wuud
RAPIDSHARE:
DOWNLOAD: CD1
DOWNLOAD: CD2

DOWNLOAD! CD3
DOWNLOAD: CD4

DOWNLOAD: CD5

DOWNLOAD: CD6






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