sexta-feira, 9 de março de 2012

Smashing Pumpkins -Siamese Dream (1993)


Existe uma fronteira entre a melancolia, a fúria e o lirismo? Definitivamente, não. São três manifestações genuínamente humanas, devidamente analisadas sob a luz da metafísica, que nos faz ter certeza do nosso diferencial face à outros mamíferos do reino animal. Aparentemente, são três erupções identitárias disso que se define homem. Mas na verdade, não há diferença entre as mesmas, pois acabam por consubstanciar-se pela arte. Mas porque cargas d'água eu cai nesse assunto? Simples … Se eu não falar da concatenação dessas três propriedades da manifestação do homem, que conferem o seu caráter diferencial frente aos outros filos do reino animal, não poderei falar com propriedade de uma das obras musicais mais importantes da história da música em final do século XX.

Siamese Dream (1993), é um disco que foi concebido num momento que para muitos poderia ser considerado o insustentável. A banda já vinha de uma desgastante turnê de divulgação do álbum Gish (1991). E nesse meio tempo, a relação entre a banda encontrava-se plena e explicitamente desgastada pelos vários embates que ocorriam entre os membros. Darcy Wreztky (Baixo) e James Iha (Guitarrista) já tinham terminado o seu relacionamento, Jimmy Chamberlain (bateria) terminou por se afundar cada vez mais em um vício incontrolável de heroína, e Billy Corgan (Vocal e guitarra) estava no ápice de sua tirania. Cenário perfeito para o término de uma banda relativamente tenra, mas no caso do Smashing Pumpkins isso foi o combustível para ocasionar o vindouro e reverberante brilho de um dos discos mais significativos e influentes dos últimos vinte anos.


Gravado sob as condições mais adversas possíveis, eis que tal disco é concebido. Primeiramente a banda saí de Chicago, e muda seu local de trabalho para Atlanta, devido ao vício profundo de Chamberlain por heroína. Nessa tempestade também, Corgan concentra o processo de gravação apenas em dois elementos. Ele e o junkie. Os outros dois eram apenas enfeite, elemento de adição não muito significante. A produção do álbum ficou sob os cuidados de Butch Vig. Aquele mesmo que dois anos antes produzira o magnum opus da década. Nevermind. O irritadiço líder dos abóboras viu em Vig o ingrediente que faltava para alçar o seu segundo registro ao mainstream. Com exaustivas sessões de gravação, que chegavam a beirar dezesseis horas de estúdio, os três mosqueteiros conseguiram chegaram à um ápice estético sonoro que continua a reverberar até os dias de hoje. Exitos como today, cherub rock e disarm são amplamente lembradas por pessoas que viveram aquele momento, e que ouvindo tais canções tem acesso a uma memória imagética plena e bem constituída. Outras pedradas compõe o disco, como a irônica Silverfuck que é “dedicada” à Martha Corgan. Ou mesmo belíssimas, inesperançosas e sufocantes como Mayonaise e Geek U.S.A. Mas o álbum não é apenas fúria ou melancolia vomitada estupidamente com distorções violentas, e que rasgam a mente  e os sentimentos do ouvinte em milhares de pedaços. A tocante e bem escrita Luna vem à arrefecer toda essa intensa manifestação de desesperança, melancolia e raiva. Ao passo que acalma, ela deixa o álbum com uma grande incerteza. Será que terminou? A resposta deste humilde escritor – na mais tola das opiniões, é um humilde não, de forma bem recatada e patética.


Rafael Bedenik é um existencialista, preso em um corpo de moleque, vagando pelas ruas de Aracaju.

Artista: The Smashing Pumpkins
Álbum: Siamese Dreams

Ano: 1993

Gravadora: Virgin


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