Quando
tira a roupa nas páginas do escritor americano, Yen mostra um pênis que vira
clitóris; Iggy mistura ainda mais as já confusas estações de Burroughs
invocando outro personagem de outra novela, The Soft Machine, que diz que o
amor é “como hipnotizar galinha”...
Melhor seguir a batida que Hunt Sales imprime à faixa, um chamado selvagem africano que ficou estilizado para a posteridade nas gravações de Bo Diddley - e que, desanfetaminado, faz a festa também em “You Can’t Hurry Love”, das Supremes. Depois de vomitar Burroughs, Iggy decreta que está cheio de dormir pelas calçadas e que não vai mais espancar o cérebro com birita e drogas porque tem o tal tesão pela vida. Licença poética pura: naquela época, seu alterego James Osterberg parava em pé à base de cocaína, haxixe, vinho e salsichas alemãs.
Aos trinta anos, Iggy pela primeira vez habitava imóvel alugado em seu nome: um
apartamentinho em Berlin, austeramente decorado e sem água quente. A mudança
para a Alemanha fôra idéia do amigo David Bowie, que um ano antes o içou das
sarjetas de Los Angeles para um cotidiano menos desregrado. Estava funcionando:
em junho de 1977, meros três meses após lançar o aclamado The Idiot, a dupla
voltava ao estúdio para gravar Lust For Life. Bowie cravaria outras duas
maravilhas naquele ano da graça: Low e “Heroes”.
Melhor seguir a batida que Hunt Sales imprime à faixa, um chamado selvagem africano que ficou estilizado para a posteridade nas gravações de Bo Diddley - e que, desanfetaminado, faz a festa também em “You Can’t Hurry Love”, das Supremes. Depois de vomitar Burroughs, Iggy decreta que está cheio de dormir pelas calçadas e que não vai mais espancar o cérebro com birita e drogas porque tem o tal tesão pela vida. Licença poética pura: naquela época, seu alterego James Osterberg parava em pé à base de cocaína, haxixe, vinho e salsichas alemãs.
Biógrafos apostam que a relação entre os parceiros nunca foi
sexual. Era admiração mútua, com a diferença que Bowie queria ser Iggy; passou
até a cantar num registro mais baixo para imitá-lo. Para alguém facilmente
perturbável, isso era... muito perturbador. A amizade azedou: se em The Idiot,
o afável Jimmy Osterberg abanou o rabo, em Lust For Life, Iggy soltou os
cachorros. Mas o disco equilibra como nenhum outro as duas personas do cantor:
intelectual sensível e animal sem censura.
Um lambe o chão de bares decadentes, atraído por ninfetas com botas de couro (“Sixteen”), e é compelido pela vida dura a praticar pecados esquisitos (“Some Weird Sin”). Outro passeia celebrando a vida (“The Passenger”) e canta o amor sem cinismo (“Fall In Love With Me”). Entre esses mundos, duas obras-primas que, por concidência, Bowie regravaria em 1984: “Neighborhood Threat”, coronhada brilhante na indiferença social, e “Tonight”, um gospel de arrepiar que o parceiro transformou em reggae safado, cortando a overdose do começo da letra: “Eu vi meu amor/ Ela estava ficando azul/ Eu soube que logo/ Sua vida acabaria/ Então me ajoelhei/ Ao lado da sua cama/ E essas foram as palavras que para ela eu disse/ ‘Tudo vai ficar bem hoje à noite’...”
Letras como essa saíam no improviso, da noite pro dia, dentro do estúdio. Com punch garageiro, mas clareza sonora exemplar, a banda deixou tudo registrado em poucos dias. Os irmãos Hunt (bateria) e Tony Sales (baixo) como força bruta propulsora, dois guitarristas fazendo a diferença. Um deles era Carlos Alomar, fiel escudeiro de Bowie. O outro, herói pouco cantado, era o escocês Ricky Gardiner, um ex-progressivo que achou o riff de “Passenger”. Sua explicação esotérica para o status de clássico do álbum: a lua cheia na semana das gravações.
Elvis Presley morreu em 16 de agosto de 1977; Lust For Life sairia em 7 de setembro de 1977. A gravadora RCA mal perdeu tempo com a obra-prima de Iggy; 96 por cento de sua força produtiva estava fabricando LPs do rei morto. Assim que ouviu o disco pronto, Iggy achou tudo horrível, lento demais, e mergulhou de volta na paranóia cocainômana. Banho frio em Berlim jamais poderia ser uma solução definitiva. E galinhas são facilmente hipnotizáveis.
Pedro Só e jornalista e escreveu essa DB para a um número da Bizz, que não chegou a ser publicado.
Um lambe o chão de bares decadentes, atraído por ninfetas com botas de couro (“Sixteen”), e é compelido pela vida dura a praticar pecados esquisitos (“Some Weird Sin”). Outro passeia celebrando a vida (“The Passenger”) e canta o amor sem cinismo (“Fall In Love With Me”). Entre esses mundos, duas obras-primas que, por concidência, Bowie regravaria em 1984: “Neighborhood Threat”, coronhada brilhante na indiferença social, e “Tonight”, um gospel de arrepiar que o parceiro transformou em reggae safado, cortando a overdose do começo da letra: “Eu vi meu amor/ Ela estava ficando azul/ Eu soube que logo/ Sua vida acabaria/ Então me ajoelhei/ Ao lado da sua cama/ E essas foram as palavras que para ela eu disse/ ‘Tudo vai ficar bem hoje à noite’...”
Letras como essa saíam no improviso, da noite pro dia, dentro do estúdio. Com punch garageiro, mas clareza sonora exemplar, a banda deixou tudo registrado em poucos dias. Os irmãos Hunt (bateria) e Tony Sales (baixo) como força bruta propulsora, dois guitarristas fazendo a diferença. Um deles era Carlos Alomar, fiel escudeiro de Bowie. O outro, herói pouco cantado, era o escocês Ricky Gardiner, um ex-progressivo que achou o riff de “Passenger”. Sua explicação esotérica para o status de clássico do álbum: a lua cheia na semana das gravações.
Elvis Presley morreu em 16 de agosto de 1977; Lust For Life sairia em 7 de setembro de 1977. A gravadora RCA mal perdeu tempo com a obra-prima de Iggy; 96 por cento de sua força produtiva estava fabricando LPs do rei morto. Assim que ouviu o disco pronto, Iggy achou tudo horrível, lento demais, e mergulhou de volta na paranóia cocainômana. Banho frio em Berlim jamais poderia ser uma solução definitiva. E galinhas são facilmente hipnotizáveis.
Pedro Só e jornalista e escreveu essa DB para a um número da Bizz, que não chegou a ser publicado.
Faixas:
- Lust for Life
- Sixteen
- Some Weird Sin
- The Passenger
- Tonight
- Success
- Turn Blue
- Neighborhood Threat
- Fall in Love With Me
Nenhum comentário:
Postar um comentário