sexta-feira, 16 de março de 2012

Skinny Puppy - Bites 1985 Netwerk Records



Lançado cerca de um ano depois do seu primeiro EP Remission, Bites é o primeiro álbum da banda canadense formada por  cEvin Key (Kevin Crompton) e Nivek Ogre (Kevin Ogilvie) em Vancouver em 1982.O conceito e o nome da banda surgiram da ideia de Kevin de criar algo visto e ouvido através da perspectiva de um cão.  A partir das influências absorvidas de bandas como Chrome e Cabaret Voltaire o SP começou a criar a partir de Remission sua sonoridade crua, sintética e sombria. Em Bites as linhas de sintetizador mais típicas do technopop oitentista usadas em algumas faixas de Remission deram lugar a construções complexas e texturas densas cridas por samples e efeitos.


O álbum começa com Assimilate, que junto com sua batida forte e dançante traz Ogre entre berros anunciado que o futuro será dentro de jaulas e que quem não apodrecer será “assimilado”. The Choke, a faixa que abre o lado b do vinil inicia com o bumbo sintético pontuando as conjecturas de Roman Polanski em seu filme O Inquilino, “se você cortar minha cabeça eu devo dizer eu e minha cabeça ou minha cabeça e eu” até que o grito arrepiante da cena final do filme introduz todo o peso dos sintetizadores e caixas. Mesmo sabendo que a banda é creditada como inventora do subgênero electro-industrial é espantoso ver como essa sequencia introdutória de The Choke foi tantas vezes imitada, recriada e reciclada sobrevivendo até 2012 em gêneros como dubstep e deathstep.

Capa, letras, sonoridade, tudo em Bites fascina e intriga, e ainda que não apresente a maturidade plena alcançada mais tarde em Vivisectci e Rabbies, o disco impressiona pela inspiração das composições e pelo sofisticado complexo de programações. O álbum abriu para o ouvinte da época toda uma nova perspectiva de experimentação extrema de novas sonoridades através da manipulação humana dos dispositivos eletrônicos, o que foi a base do que há de mais interessante em toda a música eletrônica desde então até os dias de hoje. 

Deiby Mendes, ser indefinível, e um entusista de música eletrônica que passa dias, mexendo em suas parafernálias eletrônicas sonoras, em seu quarto lá em Blumenau.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Smashing Pumpkins -Siamese Dream (1993)


Existe uma fronteira entre a melancolia, a fúria e o lirismo? Definitivamente, não. São três manifestações genuínamente humanas, devidamente analisadas sob a luz da metafísica, que nos faz ter certeza do nosso diferencial face à outros mamíferos do reino animal. Aparentemente, são três erupções identitárias disso que se define homem. Mas na verdade, não há diferença entre as mesmas, pois acabam por consubstanciar-se pela arte. Mas porque cargas d'água eu cai nesse assunto? Simples … Se eu não falar da concatenação dessas três propriedades da manifestação do homem, que conferem o seu caráter diferencial frente aos outros filos do reino animal, não poderei falar com propriedade de uma das obras musicais mais importantes da história da música em final do século XX.

Siamese Dream (1993), é um disco que foi concebido num momento que para muitos poderia ser considerado o insustentável. A banda já vinha de uma desgastante turnê de divulgação do álbum Gish (1991). E nesse meio tempo, a relação entre a banda encontrava-se plena e explicitamente desgastada pelos vários embates que ocorriam entre os membros. Darcy Wreztky (Baixo) e James Iha (Guitarrista) já tinham terminado o seu relacionamento, Jimmy Chamberlain (bateria) terminou por se afundar cada vez mais em um vício incontrolável de heroína, e Billy Corgan (Vocal e guitarra) estava no ápice de sua tirania. Cenário perfeito para o término de uma banda relativamente tenra, mas no caso do Smashing Pumpkins isso foi o combustível para ocasionar o vindouro e reverberante brilho de um dos discos mais significativos e influentes dos últimos vinte anos.


Gravado sob as condições mais adversas possíveis, eis que tal disco é concebido. Primeiramente a banda saí de Chicago, e muda seu local de trabalho para Atlanta, devido ao vício profundo de Chamberlain por heroína. Nessa tempestade também, Corgan concentra o processo de gravação apenas em dois elementos. Ele e o junkie. Os outros dois eram apenas enfeite, elemento de adição não muito significante. A produção do álbum ficou sob os cuidados de Butch Vig. Aquele mesmo que dois anos antes produzira o magnum opus da década. Nevermind. O irritadiço líder dos abóboras viu em Vig o ingrediente que faltava para alçar o seu segundo registro ao mainstream. Com exaustivas sessões de gravação, que chegavam a beirar dezesseis horas de estúdio, os três mosqueteiros conseguiram chegaram à um ápice estético sonoro que continua a reverberar até os dias de hoje. Exitos como today, cherub rock e disarm são amplamente lembradas por pessoas que viveram aquele momento, e que ouvindo tais canções tem acesso a uma memória imagética plena e bem constituída. Outras pedradas compõe o disco, como a irônica Silverfuck que é “dedicada” à Martha Corgan. Ou mesmo belíssimas, inesperançosas e sufocantes como Mayonaise e Geek U.S.A. Mas o álbum não é apenas fúria ou melancolia vomitada estupidamente com distorções violentas, e que rasgam a mente  e os sentimentos do ouvinte em milhares de pedaços. A tocante e bem escrita Luna vem à arrefecer toda essa intensa manifestação de desesperança, melancolia e raiva. Ao passo que acalma, ela deixa o álbum com uma grande incerteza. Será que terminou? A resposta deste humilde escritor – na mais tola das opiniões, é um humilde não, de forma bem recatada e patética.


Rafael Bedenik é um existencialista, preso em um corpo de moleque, vagando pelas ruas de Aracaju.

Artista: The Smashing Pumpkins
Álbum: Siamese Dreams

Ano: 1993

Gravadora: Virgin


segunda-feira, 5 de março de 2012

Tim Maia Racional Volumes I e II.


No início dos anos 70, Tim Maia emplacava um sucesso atrás do outro. Em seu primeiro disco (homônimo e lançado em 1970) estourou com Azul da Cor do Mar, Coronel Antônio Bento e Primavera. Os discos seguintes trouxeram mais sucessos. Não quero dinheiro (Só quero amar), Gostava Tanto de Você, Réu Confesso. Tim era um ícone nacional, enchendo estádios de norte a sul, com sua mistura endiabrada de Soul e MPB, e vivendo a tríade “Sexo, Drogas e Soul”.

Mas Tim Maia se desencantou. Literalmente. Em 1975, ele reapareceu com um disco inteiro baseado no Universo em Desencanto, uma obra de 1000 livros com fundamentos centrados nos conhecimentos da chamada Cultura Racional, então liderada pelo grão mestre varonil Manoel. Mas a viagem do cantor passou dos limites corporativos aceitáveis e a gravadora Philips recusou lançá-lo. Isso não impediu o obstinado Tim de lançar o disco.

Ele criou seu próprio selo, o Seroma (abreviação do seu nome Sebastião Rodrigues Maia) e entrou de cabeça na divulgação da seita e do LP. As letras versavam sobre discos voadores, planetas distantes e transcrições dos mandamentos da seita. Mas o conteúdo lírico pouco importava. O instrumental, sim, é que era absurdo um absurdo em termos de inovação na música negra brasileira. Funk e soul de primeira, como nunca havia sido feito, ou escutado antes por aqui. A voz do cantor estava mudada também. Por causa da seita, Tim havia parado com as drogas, e isso refletiu positivamente em sua extensão vocal.


Apesar de todos esses atributos musicais, a divulgação e a distribuição do disco foram complicadas. Os shows praticamente eram freqüentados apenas pelo pessoal da Cultura Racional, que seguiam Tim Maia por meio de caravanas. Nessa fase “racional”, Tim lançou dois discos. Racional Volume I (1975) e Racional Volume II (1976). Após não ter conseguido presenciar disco voador nenhum e ter se desentendido com o grão mestre varonil Manoel, Tim largou a seita e alegou que a religião não passava de um grande trambique. Por causa disso, renegou os discos e os tirou de circulação. Por conta disso, os álbuns se tornaram peças raríssimas, sendo procurados até hoje por colecionadores do mundo inteiro. Algumas versões piratas de Racional Volume I incluem as músicas Ela Partiu e Meus Inimigos, que saíram originalmente em single (1977). Essa fase de Tim Maia e fruto direto da derrocada do sonho dos anos 60, o mesmo mal estar e vazio espiritual que se espalhou pelo Mundo, nos desesperados anos 70.

Massacrado pela crítica na época do seu lançamento, hoje os discos Racionais Vol. I e Vol. II são considerados clássicos, tendo músicas como Imunização Racional, Bom Senso, Rational Culture, Queira ou Não Queira, O Caminho do Bem, entre outras sendo regravadas ou tendo suas bases usadas em samplers pelo mundo a fora. Os discos hoje, são uns dos mais influentes da Historia da MPB, gerando inúmeros tributos e regravações e influenciando gente tão dispare como Planet Hemp, Curumim ou Jairzinho.

Nada mal para quem só queria ver uns discos voadores.

Por Marcello Menezes que nunca viu um disco voador, sob o céu poluído de São Paulo.

Link Para Baixar http://becodafome.blogspot.com/2007/09/tim-maia-racional-1975-1976.html