segunda-feira, 3 de junho de 2013

Planet Hemp Os Cães Ladram mas a Caravana não Para

Legalização da maconha: o discurso já existia faz tempo, principalmente fora do país, mas da maneira que foi e com a qualidade que acompanhou, o Planet Hemp marcou uma geração. Quem já era mais velho se identificou e quem cresceu junto levou a mensagem pra vida e o legado persiste. O tema tomou grandes proporções com o advento das mídias sociais, mas dez anos antes eles já estavam no palco e até na prisão.

“Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” tinha tudo, a capa, o nome, acompanhado de shows polêmicos – mas era isso que eles queriam, polêmica gera mídia, gera discussão – e principalmente o posicionamento e a imagem que criaram, aconteceu tudo como deveria acontecer e até as injustiças tiveram sua utilidade. Recentemente o juiz Vilmar Pinheiro, que determinou a prisão do grupo em Brasília na época que o disco foi lançado, foi afastado acusado de receber propina de traficantes e atrasar processos, a ironia trouxe mais uma vez a banda pra mídia, tudo isso meses depois de apresentação headliner na versão brasileira do Lollapalooza.

Produção de alto nível, influências tão díspares quanto bossa nova e hardcore, língua afiada e atitude, a fórmula era promissora e o resultado foi a consolidação daquilo que já tinham traçado com o debute “Usuário”. O disco sobrevive musicalmente, independente de a pessoa apoiar ou não a mensagem que ele passa, e isso é a prova que a música pela música sobrevive.

O disco passeia pelo funk e até pelo fusion com muita naturalidade, seja nas linhas de baixo ou na guitarra característica do gênero. São toques de jazz, samples que vão de Led Zeppelin à N.W.A, hip-hop com o rock puxando para um lado diferente do que o Run-D.M.C. ou o Rage Against the Machine faziam, sem pender muito pra nenhum dos dois lados.

O diálogo entre Marcelo D2, BNegão e Black Alien é a espinha dorsal do disco. Enquanto a música está bem cuidada, ainda mais com a participação de Apollo 9 e Zé Gonzales, o trio profere suas ideias sem censura, a mensagem é direta e clara, principalmente em hits como “Queimando Tudo”, carro-chefe do álbum. O que torna o álbum ainda mais rico é que o leque de temas abordados se ampliou muito, como se “Usuário” tivesse aberto uma ferida que aqui é cutucada bem a fundo. Valendo sempre lembrar que nessa segunda metade da década de 90 a bandeira da legalização estava com tudo, era o Planet Hemp, O Rappa, Raimundos e Rita Lee, até o Mamonas Assassinas colocaram a tão temida palavra – pela polícia que cancelava ou censurava os shows do Planet Hemp ao menos – em um dos seus hits, cantados a todo pulmão por crianças no país inteiro.

Um disco que não devia nada na época pra material estrangeiro graças a produção do badalado Mario Caldato Jr, e que soa fresco até os dias de hoje. Essencial tanto para quem levanta a bandeira pela legalização quanto para um mero fã de boa música. Para o bem ou para o mal, “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára” criou uma verdadeira horda de então-adolescentes, agora adultos, com senso crítico e opinião própria, que mesmo na versão chata da coisa ainda é algo bem-vindo.

Aldo Hanel, assina o texto, mas dizem que quem escreveu foi seu gato.

- Notas: O disco ,foi gravado no final de 1996, mixado nos EUA,e obteve Disco de Platina na época.
- O vocalista Bnegão saiu da banda, sendo substituído por Gustavo Black, mas não deixou de emprestar sua voz para o novo disco, em faixas com "Hip Hop Rio" e "100% Hardcore". Zé Gonzales nas picapes, Apollo 9 nos teclados, completaram a formação básica do álbum.




1. "Zerovinteum"   5:18
2. "Queimando Tudo"   2:55
3. "Hip Hop Rio"   2:34
4. "Bossa"   0:25
5. "100% Hardcore"   2:47
6. "Biruta"   3:35
7. "Mão na Cabeça"   3:25
8. "O Bicho Tá Pegando"   2:54
9. "Adoled (The Ocean)"   3:07
10. "Seus Amigos"   1:43
11. "Paga Pau"   3:20
12. "Rappers Reais"   3:24
13. "Nega do Cabelo Duro"   2:04
14. "Hemp Family"   3:28
15. "Quem Me Cobrou?"   2:04
16. "Se Liga"   6:52
Duração total:
49:55


















































terça-feira, 30 de abril de 2013

"Blow By Blow" Jeff Beck 1975




Nenhum disco instrumental de um guitarrista virtuoso foi tão importante no contexto da cultura pop quanto "Blow By Blow", de Jeff Beck. Apesar de inovar consideravelmente na sonoridade, Blow By Blow não foi um sucesso apenas de crítica, como seria de se supor. Num feito raro para um disco instrumental, o álbum também foi aceito pelo público, alcançando assim a quarta posição dos mais vendidos da Billboard na ocasião e recebendo o certificado de disco de platina pela RIAA (Recording Industry Association of America).
Lançado em 1975, o disco retrata um período de mudanças na carreira do artista, que a partir de então começou a inserir cada vez mais elementos de funk e soul em sua música. O resultado, que pode ser visto nesse primeiro trabalho solo, é um disco híbrido, no qual o rock não passa nem perto de ser a principal influência.

Mérito de Jeff Beck? Sim, claro. Mas não só dele. A equipe que acompanhou o músico em estúdio tem muita importância no resultado final. O produtor do disco foi ninguém menos que George Martin. Ele, inclusive, foi um mentor importante para Beck no período, freando o perfeccionismo exagerado do guitarrista, que tinha a intenção de regravar trechos de solos mesmo quando o disco já tinha sido prensado. E ainda bem que Beck manteve o juízo nas edições posteriores do disco, que não contam essas possíveis mudanças.

Stevie Wonder também auxiliou para que o projeto fosse um sucesso. O compositor cedeu duas músicas para Beck:  a romântica "Cause We've Ended As Lovers" e um tributo a Thelonious Monk, batizado de estranhamente "Thelonius" (sic), na qual Wonder toca clavinete sem ser creditado nos encartes das primeiras tiragens.
Porém, o colaborador menos citado nas resenhas de Blow By Blow geralmente é o tecladista Max Middleton, que já havia integrado o Jeff Beck Group. Ao lado de Beck, ele compôs grande parte do repertório do álbum, inclusive a faixa "Scatterbrain", que se destaca por ser a mais virtuosa e inovadora (mas ainda assim nada cansativa).

Entre as versões, há também "Diamond Dust", de Bernie Holland e "She's A Woman", dos Beatles. A composição de John e Paul, inclusive, ganhou arranjo de talk box. Porém, ao vivo, a reprodução dessa música não satisfazia Beck, que descontente com o resultado obtido, chegou a quebrar uma Stratocaster e o talk box numa apresentação em Cleveland, em maio de 1975. Uma pena que Jeff Beck não tenha quebrado também o pedal de talk box de Ritchie Sambora, antes do guitarrista do Bon Jovi gravar "It's My Life" e "Livin On a Prayer". Muitos instrumentistas ficariam contente em não ter o marcante efeito relacionado a essas duas babas da farofa norte-americana.
                 Depois de "Blow By Blow", Beck lançou os ótimos discos Wired e There and Back, que formam uma trinca de clássicos da carreira solo do guitarrista. Na sequência, o artista lançou discos irregulares e ruins  (como Flash) ou bons, mas com pouco apelo junto ao público (como You Had It Coming e Guitar Shop). O mais marcante, porém, é que desde então quase nenhum disco instrumental de um guitarrista agradou tanto os ouvintes de música pop como "Blow By Blow" (com exceção talvez de "Surfing With The Alien", de Joe Satriani). 

Lançamento: 1975 - Epic/CBS/Sony
Produção: George Martin
Engenheiro De Som: Denin Bridges
Estúdio: AIR Studios, Londres
Faixas: "You Know What I Mean", "She's A Womam", "Constipated Duck", "AIR Blower", "Scatterbrain","Cause We've Ended As Lovers", "Thelonius", "Freeway Jam" e " Diamond Dust".
Formação: Jeff Beck (guitarra), Max Middleton (teclados), Phil Chenn (baixo) e Richard Bailey (bateria e percussão).

Notas:
# "Blow by Blow" foi o primeiro e único disco de platina de Beck.
# O disco alcançou o quarto lugar na parada norte-americana.
# Hoje Beck não abre mão de sua "Fender Stratocaster", mas nessa época a preferida do guitarrista era uma "Gibson Les Paul" preta.
# A pintura da capa foi confeccionada pelo artista John Collier, que usou como base a mesma foto  presente na contra capa do LP.
# Apesar de não creditado, Stevie Wonder toca teclado no disco.

Helder Maldonado e jornalista cultural e nas horas vagas faz cosplay de John Fruisciante da ZL.

Confira aqui.